quarta-feira, 26 de maio de 2010

Entrevista a Economista

Entrevista a Economista


Dado o carácter económico da nossa revista decidimos ir de encontro a entidades credibilizadas nesta área. Uma semana antes de sair o PEC de 2010 entrevistamos uma economista bastante conceituada no mundo da economia

1. O que a levou a optar por esta carreira?

Não optei por nenhuma carreira em particular, fui para economia pois achei que me iria abrir novas portas, em termos de mercado de trabalho, bases de matemática que tem muitos interesses e no fundo a economia permite compreender muita coisa que o censo comum não permite e dá-nos ferramentas e instrumentos para compreender a realidade e, a meu ver, é uma área interessante. A economia afecta muito a sociedade mais do que a sociedade pensa.

2. Em que área se especializou?

Eu trabalhei em consultoras mas fiz uma especialização em análise político-social, porque me interesso pelas questões sociais e pela parte política, que ainda estou a acabar, no fundo é adquirir ferramentas para poder compreender melhor a realidade e a economia. Dá-me também um bom enquadramento base para depois ser completado com outras especializações.
Ja trabalhei na área da consultadoria e agora trabalho na política.

3. Se comparar os dois trabalhos qual foi para si o mais cativante?

Por um lado a parte política permite dar mais azo ao idealismo e eu sou uma pessoa bastante idealista. Na consultadoria é tudo muito mais de satisfazer as necessidades dos clientes, ser o mais profissional possível o que me deu muitos métodos de trabalho e muito profissionalismo.

Na política existem, muitas vezes, áreas de pouca organização e de menor profissionalismo.

4. Quais as potencialidades da economia portuguesa e em que ramos deveria de apostar?

As empresas estão cada vez mais qualificadas, as relações com o exterior estão cada vez mais vastas. Existem os Programas de Erasmos, onde muitos licenciados qualificados, vão para o estrangeiro consolidar os seus estudos. Outra ponto que deve de ser explorado consiste em fazer com que a economia, como um todo, passe a ser reconhecida e a competir mais pelo valor do que pela quantidade. Cada vez mais são necessárias empresas que produzam bens de elevado valor acrescentado, porque não podemos competir com a China nos bens de baixo valor acrescentado mas podemos competir no domínio das tecnologias de ponta que geram mais valor. Se continuar-mos a produzir bens com pouca tecnologia vamos estar a competir com países de mão-de-obra muito barata, onde o Estado tem uma protecção social muito fraca. No nosso caso, temos de manter um nível elevado de protecção social, investimentos públicos como a nível da saúde e da educação e isso aumenta os custos de produção sendo uma desvantagem na produção de países de baixo valor. Portanto temos de alterar o nosso padrão de socialização para incorporarmos mais o conhecimento, mais tecnologia e competir com os melhores.

5. E qual o calcanhar de Aquiles?

Eu acho que um dos pontos fracos é o sistema de justiça, mas também ainda há muito à muito a fazer para melhorar o ambiente de negócios. Tem de ser mais fácil para as empresas abrir negócio em Portugal e tornar a economia portuguesa mais atractiva ao IDE. Há muito trabalho a fazer, a justiça demora muito tempo a resolver um caso, muito tempo para se resolverem os processos e isso faz com que muitas empresas desistam logo à partida de investir em Portugal, acaba por ser mais um factor de peso a juntar a outros como a mão-de-obra mais cara do que por exemplo nos países de Leste.

Tem havido esforços de simplificação de procedimentos, sempre houve, mas tem de se levar esse esforço muito mais longe. No entanto, já através de estudos realizados a nível mundial pode-se constatar uma melhoria de Portugal no que toca à criação de condições atractivas para o negócio, o que é positivo.

6. Como o resolver?

No sector da justiça é complicado, pois é um sector pouco dado à mudança mas penso que passa por retirar dos tribunais processos menores, como por exemplo cobranças de dívidas, coisas pequenas que estão a entupir os tribunais e todos esses processos demoram muito tempo. Apostar cada vez mais na desmaterialização, na utilização de meios informáticos, procurando arranjar uma maneira de monitorizar o trabalho melhorando a assistência e o tempo de resposta às pessoas.

No que toca à criação de condições mais atractivas para o IDE em Portugal, a solução deve passar por benefícios fiscais, que podem ser melhor trabalhados.

7. O orçamento de Estado adequa-se?

Eu acho que o orçamento de Estado tem de ser complementado com o Programa de Estabilidade e Crescimento que é um programa a médio prazo enquanto que o orçamento é só de um ano e num ano não se pode querer grandes rupturas. É no PEC que se pode operar grandes rupturas e mudanças.

Pode parecer um pouco ambicioso mas o PEC é muito mais importante que o orçamento de Estado.

8. E o problema da divida externa, cujas números altos, bastante preocupantes, agravam as nossas relações com os nossos credores?

A meu ver, a dívida externa é uma das preocupações actuais.

As nossas relações com o exterior, ou seja, importações e exportações, ao longo de quase 100 anos, têm sido desequilibradas, isto é, sempre importámos mais do que exportámos. A única maneira de procurar inverter essa tendência é através, como já referi, da subida do valor das exportações. Subir p valor das exportações em três frentes: Este Governo tem apostado muito na internacionalização da economia e na internacionalização no sentido de reverter esse desequilíbrio na balança comercial; é preciso exportarmos mais, exportar mais por meio de produtos de alto valor acrescentado; ambicionar mais, sair do mercado interno e arriscar mais, são estas as 3 frentes.

Há empresas que já exportam bastante e reforçaram, nos últimos anos, a sua internacionalização, mas devem continuar a diversificar os mercados adaptando-se às novas exigências do mercado mundial, procurando alterar o seu padrão das exportações pois eu posso enviar um caixote de coisas para um determinado país, esse caixote pode ter bens de baixo valor acrescentado o que faz com que o seu valor seja baixo. Se nesse mesmo caixote incorporarmos chips, máquinas, produtos de última geração, tudo produtos de alto valor acrescentado, o meu caixote valoriza e sobe o valor das nossas exportações.

O sector do calçado, por exemplo, tem-se transformado bastante e neste momento, salvo erro, os sapatos portugueses são os segundos mais caros do mundo a seguir à Letónia. Portanto conseguiram revolucionar-se e atingir patamares muito mais elevados, ou seja, eles até podem produzir um pequeno número de sapatos, mas esses sapatos são feitos com os melhores materiais existentes, sendo sapatos de elevado valor e são esses os mais procurados na Europa.

9. Concorda com a opinião expressa por entidades da U.E, que afirmam que os salários em Portugal têm de descer? Porquê?

Há muita coisa que se prende na macro economia sobretudo na questão de que os salários devem de aumentar se der um aumento da produtividade. Mas o que temos constatado, em alguns casos, é que os salários não têm acompanhado a produtividade. De facto, toda a gente quer melhores salários mas isso também tem de reflectir na nossa capacidade de gerar riqueza e da nossa produtividade. Eu não sei se faz sentido descer os salários ou não, mas o que é certo é que estes, na situação económica em que vivemos, não podem subir muito, principalmente em sectores que não conseguiram obter níveis aceitáveis de produtividade. Se os salários vão crescendo, o custo de trabalho aumenta e se as empresas não conseguem crescer em valor vão perder competitividade. No entanto existem factores que subiram muito a nível de valor e aí até fará sentido um aumento dos salários, mas cada caso é um caso, não podemos generalizar.

10. Uma última pergunta. Como perspectiva Portugal dentro de uns anos, 2012 não lhe diz nada?

Espero que já estejamos num período de crescimento económico. O resto não ligo nem acredito, para mim 2012 é mais um ano de trabalho.

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